"A estética do frío"
Conozcámos a Vitor Ramil
"Eu me chamo Vitor Ramil. Sou brasileiro, compositor, cantor e escritor. Venho do estado do Rio Grande do Sul, capital Porto Alegre, extremo sul do Brasil, fronteira com Uruguai e Argentina, região de clima temperado desse imenso país mundialmente conhecido como tropical...
...(uma estética do Brasil tropical) não se poderia afirmar que ela unificava os brasileiros, uma coisa era certa: nós, do extremo sul, ramos os que menos contribuíam para que ela fosse o que era...
...Se minha identidade, de repente, era uma incerteza, por outro lado, ao presenciar as imagens do frio serem transmitidas como
algo verdadeiramente estranho àquele contexto tropical (atenção:
o telejornal era transmitido para todo o país) uma obviedade se impunha como certeza significativa: o frio é um grande diferencial entre nós e os “brasileiros”...
...Precisamos de uma estética do frio, pensei...
...As fronteiras, tão móveis em nossa origem, pareciam ter mesmo grande importância nessa questão. Muitos de nós, rio-grandenses, consideravam-se mais uruguaios que brasileiros; outros tinham em Buenos Aires, Argentina, um referencial de grande pólo irradiador de informação e cultura mais presente que São Paulo ou Rio de Janeiro...
...Entre tudo o que eu experimentara em meu ecletismo musical, um
gênero se distinguia, a milonga"...
Fragmentos de A ESTÉTICA DO FRIO, Conférence de Genève, 2004 primera edición.
Ahora, escuchemos algo de su música...
Milonga de Manuel Flores
poema Jorge Luis Borges
música Vitor Ramil
...Existe a milonga para dançar, alegre, em tom maior, apropriada ao som forte do acordeom. Mas eu estava pensando namilonga pampeana ou campeira, ou ainda milonga-canção, como for, quase sempre em tom menor; simples e monótona, segundo a definição de um dicionário; lenta, repetitiva, emocional; afeitaà melancolia, à densidade, à reflexão; apropriada tanto aos vôos épicos como aos líricos, tanto à tensão como à suavidade, e cuja espinha dorsal são o violão e a voz. Uma forma que, quanto mais dela se extraísse, mais expressiva ficaria. Que outra, se não essa, escolheria o gaúcho solitário da minha imagem para se expressar diante daquela fria vastidão de campo e céu? Que outra forma seria tão apropriada à nitidez, aos silêncios, aos vazios? Em sua inteireza e essencialidade, a milonga, assim como a imagem, opunha-se ao excesso, à redundância"...